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Vou pedir licença para vocês e reproduzir aqui, inteirinho, um post que
André Barcinski (de quem, aliás, sou fã confessa)colocou em seu blog, ontem. Normalmente, eu colocaria só o link, mas esse é tão fantástico, tão divertido, que merece estar aqui, no Filhas, na íntegra. Então, amores, aproveitem a tarde de caos de André Barcinski e Rogéria.
No caos com Rogéria
Estava ontem num estúdio em Pinheiros, gravando um programa de TV apresentado pela mitológica Rogéria.
Tudo ia bem até o meio da tarde, quando um estrondo interrompeu a gravação. Parecia que o telhado estava desabando.
Fui à rua ver o que estava acontecendo. Pedaços de gelo do tamanho de bolas de gude caíam, amassando carros e quicando na calçada. Já vi granizo em São Paulo antes, mas nunca com aquela intensidade.
Em poucos minutos, a rua toda ficou coberta por uma camada de 20 cm de gelo. O gelo entupiu as calhas do prédio e a água começou a invadir o estúdio.
Enquanto o mundo caía lá fora e a equipe tentava impedir a inundação, Rogéria, completamente alheia ao caos, contava a uma assistente casos de sua primeira viagem ao Irã, nos anos 70.
Interrompemos a gravação. O carro que deveria buscar Rogéria e sua “entourage” – o “stylist” Ronald e o assistente Lucas – estava parado num engarrafamento monstruoso e não conseguiu chegar a Pinheiros. Tentamos vários pontos de táxi na região, sem sucesso.
A única solução para levá-los ao hotel, na Paulista (Rogéria mora no Rio), era o metrô. Rogéria, num bom humor tremendo, achou a idéia ótima: “Faz anos que não ando de metrô em São Paulo, vai ser uma aventura."
E foi mesmo. Primeiro, andar pelo Largo da Batata com Rogéria, de salto, lenço na cabeça e um óculos escuros Prada, sendo cumprimentada e chamada de “linda” e “gostosa” por várias pessoas. “Eu amo São Paulo, aqui eles sabem reconhecer os artistas."
No metrô Faria Lima, outro caos: a fila chegava quase à rua.
Sugeri procurar um restaurante para esperar o pandemônio passar. O bairro todo estava sem luz e os faróis de trânsito, apagados. Pinheiros era uma visão do inferno. Rogéria não se abalou: “Vamos andar a pé, assim eu conheço um pouco do bairro!”
Andamos uns oito quarteirões e paramos numa cantina. O lugar estava sem luz, mas o mâitre foi gentil e nos atendeu. Rogéria aprovou a comida: “Nem em Roma comi uma massa como a sua, dê os parabéns ao chef!”
Paramos na Rua dos Pinheiros para tentar um táxi. Os dois assistentes de Rogéria e eu ficamos pelo menos 20 minutos numa esquina, gritando para os carros que passavam. Ninguém parou.
Rogéria resolveu agir: “Meus amores, podem deixar que eu vou chamar um táxi. São Paulo não vai deixar Rogéria a pé!” E ela ficou na esquina, com o braço esticado, dizendo “Uhuuuu! Pelo amor de Deeeeeeeus, um táxi! Ajuuuudem!” Em três minutos, um táxi parou.
O carro subiu a Rebouças, que estava em obras. Quase fomos abalroados por um trator – juro, parecia uma miragem – que subia a avenida às sete e meia da noite. Levamos quase uma hora para chegar à Consolação.
Rogéria parecia estar se divertindo. Sentada no banco da frente, contava ao motorista histórias de suas primeiras visitas a São Paulo, nos anos 60. “A gente ia às boates ouvir bolero, coisa chique, não esses bate-estacas horríveis de hoje.”
Quando o táxi passou em frente à Nostromondo, famosa boate gay na Consolação, ela não se conteve: “Ah, a Nostro... Quantos shows não fiz lá? Quantos prêmios não ganhei ? Que saudades!
Levamos mais 40 minutos para andar três quarteirões na Paulista. E, aí, a paciência de Rogéria parecia estar chegando ao fim: “Gente, o que é isso? Nunca vi um engarrafamento desses, Deus me livre. Que horror.” O clima azedou.
Até que outro táxi emparelhou com o nosso, e o motorista a reconheceu: “Rogéria, você está linda, cada dia mais jovem...”
“Ah, meu amor, que bondade a sua! Você é que está lindo, com esse bigode chiquérrimo! Deus te abençoe, querido!”
E virou-se para nós, no banco de trás:
“Puta que pariu, eu amo essa cidade!”