segunda-feira, fevereiro 14

Pague e não reclame!



13h30
Em um restaurante bonitinho da cidade
– Pedimos como entrada focaccia, cujo acompanhamento é uma pastinha do dia. Quando chega, perguntamos ao garçon qual é o sabor da pastinha. A resposta: - É só requeijão puro senhora. As pastinhas hoje acabaram. (Pra mim, pastinha é pastinha, requeijão é requeijão. O restaurante não avisou que não tinha a pastinha que constava no cardápio, serviu a entrada adaptada e a conta, claro, veio sem o desconto de um centavo sequer).

15h15
Na farmácia
- Amor entrega a receita com o pedido de dois medicamentos para a mocinha no balcão. - Não tem. – Como assim não tem? É um spray nasal e um antialérgico, dois remédios simples, triviais. – Não tem, senhor, nenhum dos dois. Sinto muito. Quer conhecer nossa nova linha de sabonetes?

15h25
Na fila do cinema
– Um papel ofício ao lado da bilheteria avisa que a sala 4, justamente a do nosso filme, está com o ar condicionado quebrado. - Mas como assim? Em pleno domingo à tarde, dia de cinema cheio, um calorão desses que está fazendo na cidade... não tem manutenção, não tem como consertar isso? – Não senhora. Infelizmente. – Ok, vamos assim mesmo, já viemos até aqui... fazer o que, né? (Não, nem um centavo de desconto, um sorriso encabulado, uma explicação convincente... óbvio que não. Nada. Pague e não chie).

15h30
Na sala de cinema
– Ingresso com poltrona marcada, suuupermoderno, coisa de primeiro mundo. Há indicação da fileira no chão, mas é praticamente impossível ver o pequeno número numa plaquinha metálica, grudado na poltrona. Isso com o filme ainda não começado e com a luz acesa... para achar a poltrona a gente tem que se virar iluminando cada uma com a luzinha improvisada da tela do celular.

Tudo isso em uma única tarde, em um intervalo de apenas duas horas. Ser consumidor no Brasil é um dilema. Se a gente for reclamar de tudo o que está errado, vira a chata do pedaço, uma criatura insuportável, porque vai viver fazendo barraco e reclamando o tempo inteiro, vinte e quatro horas por dia (vaca mal amada - é o adjetivo standart pra qualquer mulher que ouse exigir seus direitos e reclamar de alguma coisa). Se não reclama é otária, vai ser lesada por todos, o tempo todo.

É impressionante como as pessoas se conformam, acham que as empresas, os fornecedores de produtos e serviços estão fazendo favores e se submetem a todo e qualquer tipo de situação. Parece pouca coisa, mas não é! Se o restaurante diz que vai te servir uma focaccia com pastinha, ele tem obrigação de trazer a focaccia e a pastinha. Se alguém resolve abrir uma farmácia, ele tem que ter os medicamentos em estoque, porque remédio não é balinha, se a pessoa não encontra e não toma, pode morrer. Quem tem um cinema e cobra um ingresso caríssimo, deve mantê-lo funcionando em perfeitíssimas condições. Se resolve fazer alguma inovação, tem que cuidar de todos os aspectos do negócio. Não basta pregar o número na poltrona, ele tem que estar lá de uma maneira que possa ser enxergado pelas pessoas.

E nós, os pagantes, com esse complexo de vira-lata infindo, passamos por todos esses desrespeitos fazendo olhar blasé, como se essas ninharias não importassem, afinal de conta, nos Estados Unidos, na Europa, ninguém faz barraco por causa dessas coisinhas pequenas, imagina... temos que ser iguais a eles. Alguém que resolva botar a boca no trombone, certamente não vai ter o menor apoio de quem estiver por perto. Afinal, faltam medicamentos mas a farmácia está vendendo sabonetes Roger & Gallett, não é chique? O restaurante é lindo, chef celebridade, saiu na Vejinha, quem liga pra um potinho com pastinha? E o cinema aqui do shopping já tem lugares marcados igualzinho em Nova York... e aí vem essa gentinha ficar reclamando pra estragar o domingo da gente. Se quer ar condicionado funcionando, que vá pra outra sala e assista outro filme, afinal, ninguém vem ao cinema por causa do filme, não é mesmo? A pipoca é a mesma, as pessoas conversando, mandando e recebendo mensagem no celular a sessão inteira são as mesmas, e todos os filmes em cartaz são candidatos ao Oscar, nós vamos poder passar por antenadas e atualizadas do mesmo jeito!!

É mesmo muito duro ser consumidor nesse país.

3 comentários:

Marie Clarte D´Or disse...

Rose, estava falando disso ontem com o marido!!! Como os consumidores são mal atendidos!!! Adorei o texto!

Anônimo disse...

Rose, não é só a mulher que vira a chata não (você escreve isso porque é mulher!). Em Brasília, as pessoas resolveram que podem comentar os filmes e teatros em voz alta e se a gente reclama provavelmente é porque é um idiota cuja mulher dormiu de jeans. Eu não pago cinema para ouvir crítica ao vivo, e sim para ver o filme. Essa falta de respeito está cada vez pior.

Deri Fontes disse...

Ahh gente, sem contar as vendedoras que te insistem que peças medonhas ficaram Liiiindas, na companhia area que "perde" sua bagagem e te entrega com uma semana depois (aconteceu comigo essa semana), na operadora de telefone que se vc bobear te cobra por serviços que você não contratou na sua conta (a Oi e seus provedores) e que pior ainda, vc não consegue cancelar pq 1. você não solicitou e 2. a empresa terceriza tantos serviços que não consegue identificar os responsáveis por cada um deles (Oi?). Mas se vc reclamar ai bem, não é que o serviço não presta, é você que é mal comida! :|