sexta-feira, novembro 12

E vamos nós outra vez...

Em certo ponto de "Caçadas de Pedrinho", escrito em 1933 por Monteiro Lobato, ao se referir a um ataque de onça, a boneca Emília diz: "Não vai escapar ninguém - nem Tia Nastácia, que tem carne preta". E foi bem aí que surgiu todo o bafafá sobre o tal do preconceito na obra.

Extremamente complicado discutir este assunto quando não temos bons professores em todos os cantos, com interesse para explicar o contexto da obra, levantar debates bacanas e facilitar o entendimento. Por que não temos muitos pais dedicados aos estudos e à formação do caráter dos filhos, nem muitas crianças indo para a escola com interesse nos estudos.
Por outro lado, será que é preciso vetar uma obra inteira por causa de duas palavras?

11 comentários:

Rose Foncée disse...

a carne da tia nastácia era branca?

C.E.C. disse...

fugindo da discussão sobre o parecer do MEC, "Caçadas de Pedrinho" é recheada de referências no estilo, Lili. não são apenas duas.

Marion disse...

Eu acho um absurdo proibir um livro. Ainda mais um livro do Sitio do Pica Pau Amarelo.

O povo anda muito sensível hoje em dia, vendo racismo onde não tem. Esta frase que vc citou não tem nada de errado, ainda mais saindo da boca da Emília.

A outra referência pelo que eu sei é quando numa frase se referem à Tia Anástácia como negra. ( Aliás, no contexto não é nada ofensivo, foi só para dizer o que ela é mesmo, como se chamasse o Pedrinho de branco).

E a última é que diz que ela subia num poste como um macaco. Sinceramente, eu leio isso vejo apenas a comparação da agilidade da Tia Anastácia ( que é visto com espanto por ela já ter reumatismo pelo texto) com a de um macaco. Não é a comparação dela ( por ser negra) com um macaco. Se Fosse a Dona Benta na cena, a frase seria a mesma.

Olha, o mundo politicamente correto é uma desgraça.

Beijos

lili cheveux de feu disse...

tem uma cena tão linda no filme [por que ainda nao li o livro e não sei como é nele] UMA VIDA ILUMINADA, em que uma personagem pergunta sobre os "pretos" dos EUA. o americano fica chocado por ele falar "preto" e diz que ele não deveria falar aquela palavra. e o primeiro responde "mas pq? eu adoro os pretos!!".

marcelo disse...

Era esse o mundo em que ela crescia e ele envelhecia. Os dois criaram para si mesmo um santuário longe de Trachimbrod, um habitat completamente diferente do resto do mundo. Nenhuma palavra de ódio era jamais pronunciada, e nenhuma mão erguida. Além disso, nenhuma palavra raivosa era jamais pronunciada, e nada era negado. Mas além disso, nenhuma palavra sem amor era jamais pronunciada, e tudo era revelado como uma pequena prova de que pode ser desse jeito, não tem que ser daquele jeito; se não há amor no mundo, faremos um novo mundo, dando-lhe paredes fortes e macios interiores vermelhos, de dentro para fora, e uma aldrava que ressoe como um diamante caindo no feltro de um joalheiro, para que jamais a ouçamos. Dê-me amor, pois o amor não existe, e eu já experimentei tudo o que existe.

Lili, são coisas assim que você está perdendo por ainda não ter lido Tudo se Ilumina, do Safran Foer... o que vc está esperando, mulher????

(quanto a censurar Monteiro Lobato, ou qualquer outro eufemismo que se queira dar ao fato pra fingir que não é censura, acho de uma imbecilidade sem tamanho... falta do que fazer. pronto, falei)

Anônimo disse...

lili, não houve veto, nem censura, nem proibição. houve recomendação para que sejam incluídas notas. e que os professores sejam orientados sobre a melhor maneira de trabalhar com a obra em sala de aula. é consenso entre todos os estudiosos que o pensamento do lobato, expresso pela linguagem dos livros, é racista. claro que se pode utilizar esse aspecto pra discutir o próprio racismo em sala de aula, mas, para isso, é preciso fazer uso de meios adequados. afinal, são crianças. ninguém está querendo banir a obra de lobato das escolas; ela é canônica e fundacional. agora: não obstante a importância que tem, lobato não é deus. sua obra está aí pra ser criticada e debatida. se você quiser, aqui vai o link pro parecer: http://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=1Qo8RXEXQpqfe6nHVQRF6NxUnCTvLJuphsJDniLZy5XjpGcmoKZezesgvshM2&hl=en&pli=1 e um texto bem elucidativo do professor de literatura brasileira em tulane, idelber avelar, discutindo o tema: http://www.idelberavelar.com/archives/2010/11/monteiro_lobato_o_racismo_e_uma_falsa_polemica.php#comments

beijo, cris.

Anônimo disse...

o link pro texto do idelber saiu truncado:
http://www.idelberavelar.com/archives/2010/11/monteiro_lobato_o_racismo_e_uma_falsa_polemica.php#comments

Anônimo disse...

desisto. vai na pág. principal dele que o texto tá lá:
http://www.idelberavelar.com/

Luís Fernando disse...

Como você sempre reclama que eu desapareço, aqui vai:
Qualquer tipo de censura é burra. Na literatura, então, é ainda mais inaceitável. E num livro de 1.933, então, nem se fala. Monteiro Lobato, altamente recomendado para crianças, não deve ser censurado. O que falta, na minha opinião, é formação familiar para que uma criança não se torne um adulto cheio de preconceitos. Hipócrita quem tenta encontrar justificativa numa obra infanto-juvenil para o preconceito racial que ainda (e infelizmente) existe no país. É eximir os pais, os avós, os tios e a sociedade de trabalhar a compreensão e a tolerância.
O Tony Tornado, numa entrevista para a Revista TRIP, disse que o preto tem que ter orgulho de ser preto, não neguinho, nêgo, etc. É como ele disse, ser preto tu, como disse o Jorge Ben, e viver sempre como um vencedor. Beijo.

marcelo disse...

Falou e disse, Luis Fernando!!

lili cheveux de feu disse...

tá vendo como tu faz falta, luis?
saudadona!

beijos.