segunda-feira, janeiro 7

Visões de mundo.

Num momento de insanidade, desespero, excesso de cachaça, sei lá eu, pedi para um amigo me incluir numa viagem de Reveillon que não tinha nada a ver comigo: acampamento na praia. Detesto acampar. Não gosto de ir à praia. De qualquer forma, fui, com as referências de Camping que eu tinha (já acampei várias vezes) e com a maior esperança de curtir a viagem.
Primeiro momento de desespero: só era possível acessar a praia com uma hora e meia de trilha ou pegando um barco, com isso o meu carro teve que ficar abandonado na casa de um desconhecido que cobrava 10 contos por dia para emprestar o seu quintal. Ok, sigamos.
Segundo momento de desespero: caiu uma baita chuva no primeiro dia, o que de cara já encharcou meu travesseiro, um cobertor, minha mala, algumas roupas dentro da mala... Além disso a praia ficou sem energia elétrica, portanto, nada de banho quente no primeiro dia. Nos outros dias ainda enfrentaríamos filas cada vez maiores para banhos e sanitários. Ah! Sinal da TIM? Esquece. Sem celular, nem para avisar a família que você está vivo.
Rolou toda aquela coisa normal de acampamento: não é possível dormir após as 8 da manhã por conta do calor infernal, não é possível viver sem repelente, não é possível comer de forma razoável... Para piorar, esqueci meus dois livros e meus óculos escuros no carro. No terceiro dia eu estava entrando em desespero: peguei minhas trouxinhas, entrei num barco e saí de lá decida a procurar um lugar minimamente habitável para sobreviver até o dia de irmos embora.
Terceiro momento de desespero: chego no meu carro e ele está com o pneu furado, com um dos vidros traseiros aberto (e enfrentou dois dias de chuva dessa forma), há um carro bloqueando a minha saída (com isso eu não conseguiria ir para a cidade) e enquanto um amigo trocava o pneu, prensava o carro numa árvore ao subi-lo com o macaco.
Quarto momento de desespero: Sou obrigada a voltar para o acampamento. Lá, morta pela trilha, enfrento mais de uma hora de fila até conseguir tomar um banho e aos lavar os cabelos encontro uma massaroca que se formou depois de dias de sol, banhos escassos, areia e maresia... Tive que cortar um "dread" que se formou na minha juba e não queria se desfazer nem com todo o creme e trabalho manual deste mundo. Ah! Minha mão direita misteriosamente adquiriu uma queimadura estranha, talvez causada por limão, sei lá.

A esmagadora maioria das pessoas que esteve conosco classificou o local como "O paraíso". Eu me vi no inferno. Um mundo de gente sem um mínimo de conforto, sem um mínimo de higiene, sem um mínimo de segurança (nem colete salva-vidas nos barcos eles tinham), sem um mínimo de contato com o mundo e, ainda assim, tinha nego levando até bebê recém-nascido para este lugar!

Fora as pessoas maravilhosas que eu tive o prazer de conhecer por lá (e que não são de lá), a experiência me serviu para compreender que não existe o Paraíso. Não é possível. Acho que nem Deus conseguiria agradar a todos. Eu pretendo não voltar para a Praia do Sono nesta encarnação. Tem gente que está em depressão por ter voltado para a civilização.
Tem louco pra tudo. Até para se convidar para ir a um lugar desses.

[Lembrança da Praia do Sono]

10 comentários:

Anônimo disse...

Como dizem aqui em casa, carteirinha da FUNAI renovada!

lili cheveux de feu disse...

hahahahaha, anônimo. morri.

Carolina disse...

Ai, Lili, que triste que você não gostou da sua viagem.
Olha só, não tem nada com seu feriado, eu gostaria que você me ajudasse a divulgar um gatinho pernetinha aqui em BSB pra adoção.
Ele ainda está aqui em casa sendo tratado e ainda não perdeu a perna, mas perderá em algumas semanas. Eu já estou tentando uns lugares para divulgar pra ver se eu acho alguém interessado, ele só será entregue para adoção depois de recuperado 100%. Ele deve ter uns 2 meses e é cinza de rua, sem raça. Se você aceitar, eu mando a foto quando for um momento melhor (ele não está com uma aparência excelente ainda).
Valeu, e espero que você esteja recuperada dessa sua experiência!

lili cheveux de feu disse...

Oi, Carol! Coitadinho! O que houve com a perna dele? Me manda foto quando quiser e esses detalhes também por email.
lilicheveuxdefeu@yahoo.com.br

Beijos! Parabéns por cuidar dele.

Jujuba disse...

Eu não suporto aventura. Não acampo, não faço caminhada na natureza. Gosto de conforto, muito conforto.

Anônimo disse...

o negocio é ter dinheiro. esses lugares sem estrutura eu nao gosto tb.

Anônimo disse...

entendi pq hippie gosta de cabelo hastafari(sei la como escreve). esse trocinhos se formam e nao precsa desmanchar.

lili cheveux de feu disse...

Anônimo 2, é bem por aí... Rs.

Jujuba e Anônimo 1, eu também adoro conforto... Eu devia estar drogada quando me convidei para essa furada. Rs.

Stella disse...

Acho que também teria surtado.
Mas a vida é feita de furadas, né? Algumas menores e algumas bizarras. rs

marcelo disse...

Você não deu um piti? Eu daria - bom, na verdade, com a historia de chegar e ter que alugar uma garagem por 10 contos e saber que a praia ficava a uma hora do acampamento, eu já teria dado meia volta, mas fácil, fácil... mas voltando, nessas horas, não tem dignidade mesmo!! Eu grito, boto criança pra correr, faço chilique mesmo - normalmente funciona. As pessoas ficam com medo, se afastam e começam a fazer as coisas pra gente... mas nada, NADA no mundo me faria permanecer em um lugar depois que uma chuva encharcasse meu travesseiro e minha mala - eu voltaria pra civilização nem que fosse à nado!!
(sem contar que tu é uma lesada, né - como é que deixa o carro largado com vidro aberto, sua loka!!)