segunda-feira, julho 16

Capitalismo Selvagem - faça você mesmo!

- Rose, venha ver que lindos! Acabei de comprar de uns bolivianos na rua, aqui na porta do trabalho. Uma pechincha, menina - no começo ele queria me vender por 10 reais cada balaio...
- Nossa, barato mesmo...
- Hahaha. Calma, você ainda não viu nada! Falei que tava caro, e o boliviano aceitou baixar... falou que me vendia 2, um maiorzinho e um menorzinho por 15. Fui firme, falei que não... que queria levar os três balaios, um de cada tamanho, mas só se ele me fizesse um preço menor. Ele falou que me vendia os três por 20. Ofereci 15 e ele acabou topando! Hahahahaha. 15 reais por esses três balaios lindos, praticamente de graça... vão ficar lindos na minha casa.

Os bolivianos a que ela se referia são uma família que anda aqui pelas redondezas... acho que é um casal, mais outro homem, que deve ser irmão de um dos dois, e mais cinco crianças - a mais novinha ainda bebezinha de colo. Vendem balaios, artefatos de palha e bambu artesanais por um preço muito baixo, pedem, vagam por aí, tentando se virar de qualquer jeito. Deus sabe onde eles dormem, o que essas crianças comem e que tipo de privação eles passam...

E aí, minha coleguinha se vangloria por praticamente extorquir essas pessoas. Sim, porque pagar 15 reais em três belos balaios de palha (é um jogo, são iguais em tamanhos diferentes), é praticamente assaltar essas pessoas que já não tem praticamente nada. É se aproveitar demais de uma situação de penúria, de necessidade... O mais impressionante é que a mesma pessoa que tem a cara de pau de dizer que acha caro o preço de 10 reais por um artefato bonito e útil vendido por um pai de família, acha a coisa mais natural do mundo pagar o mesmíssimo valor em um cafezinho e uma garrafinha d'agua, 15 no estacionamento do shopping, mais de 30 em um pratinho com um peitinho de frango e saladinha, alguns milhares por uma nova bugiganga eletrônica, mais outras centenas por algum tratamento de beleza idiota, e outro caminhão de dinheiro por uma blusinha ou coisa assim. É o mesmo tipo de pessoa que, se os necessitados estivessem pedindo dinheiro, diria que não porque dar dinheiro não resolve - é incentivo à vagabundagem.

Dei uma boa olhada nela - só com o sapato e a bolsa dava pra ela comprar uns 150, 200 balaios... cá pra nós, quem ficou com vontade de ir procurar os bolivianos pra comprar um fui eu. Um bem grande, que me coubesse dentro. Pra eu ficar lá quietinha, escondida de tristeza. Ou de vergonha.

6 comentários:

Jujuba disse...

Deprimente.

lili cheveux de feu disse...

não querendo equiparar a situação, mas eu sinto a mesma revolta quando estou aqui me matando pra vender umas rifas por 3 contos para ajudar cães abandonados e a pessoa tem coragem de dizer que não tem esse dinheiro, ou tem coragem de desconversar e em seguida, tranquilmente, gastar uns 30 contos de cerveja na minha frente... é revoltante. não que as pessoas tenham a obrigação de ajudar, mas é que eu mesma tenho um conceito tão diferente. compro qualquer tranqueira, mesmo que eu não vá usar, [bala, bijoux, pano de prato, flor] quando eu acho que a pessoa está realmente precisando.

e para essa sua amiga, eu faria uma cara de nojo que já tenho bem ensaiada para essas situações.

Anônimo disse...

logo que comecei a ler ja tive pena do boliviano. essa mulher é mt sem noção e desumana por nao se tocar do papel que tá fazendo.

Gi disse...

Baahhh!
{Sem mais}

Adelaide disse...

credo

Amanda Machado disse...

Mas não é? Tanta gente assim...