terça-feira, dezembro 6

A visita do oficial de justiça



Ontem, 13h00

- Dona Rose, um recado pra senhora...
- Pois não, Jorge...
- Esteve aqui, agora pela manhã, um oficial de justiça procurando pela senhora. Eu disse que a senhora já havia saído para o trabalho, e ele avisou que retorna amanhã...
- Oficial de Justiça, Jorge? Deixou recado, algum papel, algo assim??
- Não senhora... só disse que retorna amanhã.

Amores, sou uma cidadã de bem, mas confesso que passou de tudo pela minha cabeça! Oficial de justiça, meudeusdocéu, o que será que eu fiz? Estarei sendo processada? Será que desacatei alguém? Que crime teria eu cometido? Será que alguém me flagrou comprando bananas por dúzia? Teria sido eu vista furando um sinal vermelho às 2 da manhã? Ou aceitando o couvert que não constava do cardápio no restaurante? Será que Gleise Hoffmann é leitora do FDD e está me processando por eu ter me referido a ela como conservadora religiosa? Terá Lilibeth me acionado por quebra de contrato, por eu estar sumida há uns dias?

Minha tarde de trabalho foi horrorosa, fiquei com dor de cabeça e taquicardia. Precisei recorrer à Mamãe que está aqui passando uns dias comigo, e seu maravilhoso arsenal de tarjas pretas. Jantei e fiquei com um bolo no estômago, dormi pouquíssimo, me revirei na cama a noite toda, com a cabeça a mil... cenas horrorosas povoaram o meu imaginário – algemas, carro de polícia, demissão, cadeia, sentença condenatória... parecia Kafka – eu sendo processada, execrada em público, tendo a vida destruída, e sem saber porque...

O horror, amores. O horror.

Hoje, 07h00

- Bom dia, Dona Rose. Desculpe incomodar essa hora. Mas tem um oficial de justiça aqui em baixo, e quer falar com a senhora. A senhora desce ou mando subir?
- Peça para ele aguardar uns minutos, Jorge... vou me vestir e já estou descendo...

- Bom dia, pois não. O senhor quer falar comigo?
- Mme. Foncée? Bom dia, sou o Sr. Xis, oficial de justiça. Vim aqui trazer uma intimação para que a senhora compareça no dia 13, às 14h, no Forum Tal, para responder umas perguntas... trata-se de uma precatória de um juiz de Curitiba.
- Deixa eu ver... ah! Testemunha!!! Ministério Público do Paraná contra fulano...
- A senhora já sabe do que se trata?
-Sei, sim senhor. Um fato horroroso e desagradabilíssimo que eu tive o desprazer de presenciar uns anos atrás em Curitiba.
-Isso mesmo, Mme. Foncée. Assine aqui. A senhora será ouvida aqui mesmo, não há necessidade deslocamento. A justiça brasileira agradece sua colaboração nesse caso... tenha um bom dia.
- Um bom dia pro senhor também.

Ai, gente não era na-da! Me preocupei à-tô-a!!! Desperdicei um lexotan inteiro e uma noite de sono, hahahahaha. Sou só testemunha de um fato que aconteceu há muito tempo atrás e que quero muito esquecer que presenciei (qualquer dia eu conto os detalhes aqui), não vou precisar ver de novo o cara que está sendo processado, e vou com gosto prestar meu depoimento - espero que ajude para que um certo infeliz seja condenado a uns bons anos de cadeia...e eu pensando que a criminosa era eu, pode???

09h00

- Até logo, Jorge, um bom dia.
- Até logo, Dona Rose... e desculpe acorda-la hoje tão cedo, viu... mas a senhora sabe... entre as 06 e as 20 horas, quando é oficial de justiça a gente tem que chamar...

(nessa hora pensei em abrir meu maior sorriso, explicar que ele tinha agido corretamente, que o interesse era meu mesmo, e que não havia motivo para nenhuma preocupação porque eu não tinha feito nada de errado, mas meu humor estava tão bom, que resolvi fazer um pouco de gênero. Coloquei os óculos escuros e fiz a cara mais enigmática que eu pude...)

- Jorge.... você agiu certo, sempre que vierem me procurar, pode chamar, a qualquer horário... mulheres como eu estão acostumadas a serem despertadas em horários impróprios. O que será da minha vida quando não for mais confundida com uma perigosa bandida, não é mesmo?!
- Haha. Dona, Rose, a senhora tem cada uma.
- Cuidado comigo, Jorge... cuidado comigo...

Um comentário:

O Mordomo disse...

#AiComoEuToBandidaFEELINGS