terça-feira, setembro 20

Os namorados do meio dia



Estatura mediana, pele muito clara, bochechas rosadas. Não propriamente bonito, mas um rapaz de aspecto agradável. Vinte e sete, vinte e oito... trinta anos, no máximo. Ele trabalha como zelador no prédio em frente ao meu – um prédio desses sem muitas crianças ou famílias grandes, em que todo mundo sai pra trabalhar de manhã e só volta de noite, o que faz com que o moço em questão passe seus dias de forma sempre muito solitária. Ele cuida do pequeno jardim, corta a grama, varre a calçada, lava a portaria, faz pequenos consertos... sozinho, o dia inteiro, cuidando do prédio vazio, realizando essa sucessão de tarefas simples, sempre um pouco curvado, olhos baixos, jeito muito tímido.

Há uma espécie de pequeno jardim muito arborizado atrás desse prédio, bem escondidinho... um caminho que só os moradores das redondezas conhecem – sempre vazio, à exceção de algumas noites em que alguns adolescentes do bairro se reúnem lá para cometer pequenos delitos bobos, longe dos olhos das velhinhas fofoqueiras mal amadas e da polícia que prefere atormentá-los a cuidar dos verdadeiros problemas da cidade. Sexta feira estava eu passando por lá – um silêncio desses em que a gente consegue ouvir o vento na grama - apressada como sempre - e vi o moço namorando num banquinho, na sombra, bem no comecinho da tarde. Era uma moça bonita, que usava um uniforme, provavelmente alguém que trabalhe em algum comércio das redondezas em horário de almoço. Os dois estavam bem pertinho, de mãos dadas, dividindo uma coca-cola, pareciam dois adolescentes de quatro décadas atrás. Falavam muito baixo, mas estavam completamente voltados um para o outro. Uma linda cena, sensível, como se fosse um filme. Tentei passar o mais despercebidamente possível, como se estivesse atravessando um momento de vidro, que pudesse se quebrar ao menor barulho, ao menor descuido. Mesmo assim, senti que fizeram uma pausa, que houve um momento de hesitação na hora em que eu passei alguns metros em frente a eles.

Sorri por dentro, e fui cuidar da vida - nem pensei mais no zelador ou na moça de uniforme ou no namoro no banquinho do jardim, até que hoje de manhã, vindo para o trabalho, passei por ele, que estava lá, tirando evas daninhas do gramado. Ao passar por ele, sorri e cumprimentei com um educado bom dia, e então o rapaz baixou os olhos e corou. Sim, corou. Fiquei tão impressionada, tão surpreendida – no ano da graça de 2011, ainda existem homens que coram! Não sei se foi vergonha porque talvez ele estivesse namorando no horário de serviço, ou se foi mesmo, simplesmente, por eu tê-lo visto com sua namorada no banquinho, num cantinho escondido... o fato é que ali estava um homem simples, cujo trabalho é simples, cuja vida é simples, que passa os dias envolvido com afazeres simples, em um prédio simples – vermelho, tímido e envergonhado no auge da sua simplicidade. Fico aqui imaginando se a moça é sua namorada firme, se estão começando agora, se estão apaixonados um pelo outro. E ela, quem será? Uma garota também simples, tímida como ele, talvez, que tem um trabalho simples como o dele. Talvez atendendo na farmácia, talvez em algum salão de beleza, ou na papelaria... uma garota que passa a hora do almoço com seu rapaz trabalhador, manso, rosado. Um rapaz que mesmo não sendo mais tão jovem, ainda cora em situações que julga embaraçosas, e que conversa com ela de mãos dadas, cheios de cumplicidade, namorando no banquinho do jardim... Lembrei das pessoas competitivas que eu conheço, dos homens indiferentes, das mulheres ansiosas, dos romances agressivos, das indiferenças fingidas, dos comportamentos de aparência, da arrogância contemporânea e mesmo sem conhecê-los, mesmo sem saber se esse singelo romance existe somente na minha cabeça, me pego aqui torcendo por eles. Que moços de sorte, não?

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