segunda-feira, maio 2

Honra feita de sangue



Não é possível que só eu não ache tão normal assim militares de um país, entrarem em outro país e matarem uma pessoa. Por pior que essa pessoa seja, por mais atrocidades que tenha cometido, por mais que merecesse mesmo morrer. Não pela pessoa em si, mas pela soberania das nações, pelas regras do Direito Internacional e tal. Não é possível que só eu me sinta teletransportada para os filmes de bang-bang em que xerifes mocinhos tinham como missão capturar e matar os "inimigos número um" da América, normalmente índios ou alguém de raça ou religião diferente. Nâo é possível que só eu não ache natural um militar dizer que "a ordem era para matar mesmo, e não para prender", ou que uma Secretária de Estado afirme que com essa morte a justiça tenha sido feita. Voltamos ao século XV? Sou só eu que acho monstruoso o fato do mundo todo poder ter acesso à cama ensanguentada onde o terrorista foi morto, via Youtube? Ou que fica atônita ao ver o presidente de uma nação vir a público falar ao mundo que seu exército matou uma pessoa? Fosse Osama Bin Laden ocidental e cristão, será que ele não teria sido apenas capturado, trancafiado e submetido a julgamento por algum tribunal internacional que, aliás, existe exatamente para tratar desse tipo de questão?

Os próprios "heróis estrategistas" já sabem que essa ação vai ter consequências. Que haverá retaliações. Mas provavelmente essas retaliações não terão a menor importância, porque virão em forma de bombas e atentados no Paquistão. Vão matar dezenas ou centenas de inocentes, entre eles velhos, crianças. Mas assim... são velhos e crianças que nasceram no lugar errado, com a ideologia errada, com a religião errada, do lado errado do mundo. Não tem a menor importância. Que morram. A justiça, já afirmou a secretária de Estado, foi feita.

Que fique claro - não estou defendendo terrorista, acho mesmo que o sujeito em questão deveria morrer, melhor seria se nem tivesse nascido (entretanto, para espanto e pesar geral, nasceu); só acho inconcebível que as coisas tivessem que acontecer dessa forma, com esse espetáculo grotesco e medieval e sem que se pensasse nas consequências que certamente afetarão milhares e milhares de pessoas. Como se o mundo fosse se tornar um lugar mais seguro a partir de agora... pois sim!

Tem horas que eu acho que vivo em um universo paralelo, viu. Só pode.

5 comentários:

Camila disse...

Rose,
Foi bem o que pensei quando li a notícia... como assim era pra matar? pode isso? como faz?

Meu marido trabalha meio isolado da internet e quando contei pra ele na hora do almoço foi a primeira pergunta dele também: e pode isso? e a onu?

Vou te falar que ou somos muito estranhas aliens loucas ou esse povo tá é fora do juízo.

Beijo

Eu mesma! disse...

Rose
Também fiquei meio pasma com isso,parece super normal e coerente o que aconteceu,também acho que ele deveria ser julgado.
Talvez exista sim um universo paralelo,deve ser isso...

O Mordomo disse...

Eu, honestamente, nâo me abalei minimamente com a morte de Osama.

Não existe lei para punir suficientemente um homem que emana ódio há tantos anos, em tantas pessoas.

É claro que a luta pela paz não acaba aqui. Muito menos a luta pela irrestrita tolerância religiosa [na verdade esse nunca foi o motivo de tanta guerra, não sejamos tolos]. Mas acabou a sensação de impunidade. Aqui e lá.

Rose Foncée disse...

Na verdade, mordomo, o post não foi exatamente sobre a morte do Osama. Também não me abalei por ela. O problema é outro. E bem mais sério. Beijos.

Antonio Costa Neto disse...

Maravilhosa a sua publicação. Claro que são mais que abjetos os crimes do Hosama. Mas e o terrorismo simbólico, a exploração capitalista dos USA, do Obama não significam nada? Aliás, não consigo entender como um homem tão especial, tão iluminado, puro e bom como Obama pode se regozijar tanto com a morte, com tamanha violência contra alguém. Mesmo que seja o Hosama. Se ele é um assassino frio temos, igualmente, de ser igual a ele e ainda levarmos a fama dos bons?
Onde é que estamos?
Leia no meu blog: mudandoparadigmas.

Antonio