quarta-feira, março 2

Sacolas Plásticas

Recente estudo britânico diz que as sacolas plásticas não são tão vilãs assim, como querem nos fazer acreditar. Ao que parece, as fashion ecobags são piores. Não vou entrar nas minúcias dos levantamentos de CO2, até porque não entendo absolutamente nada disso. Mas fico feliz que haja um motivo para que a gente saia do “piloto automático” e comece a pensar um pouco mais profundamente sobre nossos hábitos, nossas relações com o consumo, com o dinheiro, com o planeta. Ecobags sempre me irritaram porque viraram modinha. Para mim, sua mera existência é paradoxal. Dezenas de modelinhos, algumas com estampas de estilistas, e lá vai a manada inteira, com suas bolsinhas feias combinando com o sapato a olhar feio para os bárbaros que ainda usam saquinhos de plástico no supermercado; no entanto, as ecobags em si, viraram um item a mais de consumo, custam caro, geram energia para serem produzidas, e fazem com que a gente consuma mais saquinhos de lixo de plástico azul ou preto, desses comprados, em casa, que também custam caro e são tão plástico quanto as pobres sacolinhas de compras...

Para mim, o problema sempre residiu nos nossos hábitos de consumo. Consumimos muito, consumimos mal, consumimos muito mais do que precisamos e é isso que está destruindo o planeta. Vejo os felizes usuários de ecobags enchendo-as de produtos industrializados nos caixas de supermercado. A lógica da economia da sacolinha plástica, aliás, parece que não funciona da fila do caixa para trás. É uma maçã em um saquinho, três limões em outro, uma bandejinha de carne já previamente embalada em um terceiro, e depois aqueles sacos todos (esses sim, inúteis) para dentro da ecobag, e de lá saímos, orgulhosos e com a consciência tranquila porque estamos salvando o planeta. Façam-me o favor!! Canudinhos agora tem que vir embalados um a um. Mostarda, maionese, sal, que antes nos eram oferecidos em potes, agora vem em pequenas porções embaladinhas, em nome da higiene. A caixinha de papel não basta mais para o creme dental, é preciso um plástico em volta também. Nossas frutas e verduras vêm acondicionadas em bandejas de isopor e enroladas em mais plástico. Cereais, são colocados em embalagens individuais, dentro de uma caixa de papel, que por sua vez é vedada com plástico. Jogamos comida fora com a maior naturalidade do mundo e nada disso parece nos incomodar!! Claro, a vilã é a sacolinha, minha parte já está feita.

Para sermos responsáveis com o planeta temos é que mudar hábitos muito arraigados. E isso é penoso, dói, incomoda. Adoraria ver os “ecobagers” felizes economizando água, cortando suas próprias verduras, produzindo menos lixo, gastando menos energia, menos gasolina, andando mais a pé, adoraria...mas, para esses questionamentos, a resposta padronizada está sempre na ponta da língua: “Ah! Minha vida é uma loucura. Bem que eu gostaria, mas é impossível, é uma correria, uma roda-viva. Mas pelo menos faço o que posso...” Amores, más notícias: esse pouco que achamos que podemos, infelizmente, não é suficiente, não faz a menor diferença. E enquanto for assim, não tem jeito, continuaremos indo ladeira abaixo, e depredando assustadoramente nosso próprio habitat. Até acho simpática essa coisa de “Ah! Mas já é um começo, se cada um fizer um pouquinho o resultado final é grandioso”, aquela historinha fofa do passarinho batendo asinha para apagar o incêndio na floresta e tal... mas no fundo, no fundo, sei que não funciona. Se nada mais for feito, se não mudarmos mais nada, o mundo inteiro pode parar de colocar suas compras em sacolinhas plásticas que o resultado final será rigorosamente nulo.

Em casa eu até tenho uma ecobag, que ganhei em uma loja. Jamais compraria uma, por princípio. Comprar algo que se pode viver sem é consumismo, a verdadeira causa de todo o nosso desequilíbrio. Às vezes uso caixas de papelão, mas, quando o estoque de saquinhos para colocar no lixinho da pia baixa, volto correndo às sacolinhas. O simples fato de serem usadas primeiro para acondicionar compras e depois como saquinho de lixo, já as coloca em posição de vantagem contra os sacos de lixo comprados. Há pelo menos uma reciclagem, uma reutilização, que no caso dos comprados não existe.

Podíamos aproveitar esse estudo britânico e nos dispor a pensar mais no assunto, não? Só espero que, caso as sacolinhas plásticas sejam realmente redimidas, algum supermercado não tenha a ideia de contratar Alexandre Herchcovitch para personalizar sua linha de saquinhos pretinhos. Ecologia e modismo, definitivamente, não combinam.

8 comentários:

Adelaide disse...

Rose,

Pontos e pontos.

-Sacos de lixo são de material reciclado. Sacolas, por questões de legislação, não são. São feitas de chamado plástico virgem, muito, mas muito nobre.

-O volume de lixo em casa diminuiu muito. Passamos a ter mais cuidado na hora de separar o lixo.

-Menor número de sacolas nas ruas, significam menor número de sacolas ESPALHADAS nas ruas.

- A educação é um ponto prioritário, mas acho que estamos evoluindo.

-Tem que melhorar o sistema de reciclagem. Isso mé o que mais me enfurece. Separamos o lixo em casa sema garantia de reciclagem do mesmo.

Lili Cheveux de Feu disse...

adelaide falou algo muito importane sobre os sacos de lixo. e além disso já existem no mercado [mais caro, obviamente] sacos de lixo de material biodegradável.

*

me senti tão rara...
tenho várias ecobags em casa, pois sou consumista mesmo, gosto de moda, mas ao mesmo tempo me considero uma pessoa bastante consciente.

em casa a gente guarda a agua da chuva e da máquina de lavar para lavar o quintal;
separa absolutamente todo o lixo [aqui na provincia, adê, pelo menos isso tem: um bom sistema de reciclagem onde a prefeitura distribui sacos para separação do material e uma vez por semana passa nas casas recolhendo];
eu mato um se comprar produtos que não sejam de empresas DECENTES, como a Ypê por exemplo, que não testa produtos em animais e desenvolve trabalhos como reflorestamentos;
e agora aprendi com o barba a dispensar a segunda via dos papeizinhos de compras no debito. hahahaha.

sou uma ecobager consciente.

Adelaide disse...

Lili,

Quando aos sacos biodegradáveis, há dois tipos. Tem que cuidar...

Aqueles que levam aditivos (oxibiodegradáveis em geral) causam outros problemas pois eles se "desmancham" mais rapidamente, em pedaços menores e desaparecem da nossa vista. Mas animais podem engolir estes pedaços e o estrago pode ser maior ainda. Mas há os feitos a partir de plásticos verdes. Estes sim tem cadeias biodegradáveis.

Rose Foncée disse...

Você é rara, Lilibeth. Saiba disso.

Lili Cheveux de Feu disse...

sim, adê.
se as pessoas tivessem menos preguiça - digo inclusive para estudar as opções e procurar as opções, pois elas sempre existem - a coisa melhoraria e muito.

Gilda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gilda disse...

Eu não consigo manter um padrão, sou meio politicamente incorreta, acho. Aproveito o arroz do almoço e faço bolinho por pensar nas crianças da África. Não jogo lixo na rua de forma alguma só por achar que é uma questão de educação e o óleo é doado pra uma senhora que faz sabão (pois é, ó Minas Gerais rs) e eu sou do tipo que reaproveita o que é possível por ser vantajoso para minha própria pessoa. Óbvio que me incomoda essa coisa toda do meio ambiente e se não deixei claro, repito: é uma questão de educação. Somos muitíssimo mal educados.

O que me irrita é impregnarem toda essa idéia em nós tupiniquins sendo que o 'primeiro mundo' tá pouco se fodendo pra estes detalhes. Ok, cada um faz sua parte mas o sol não tampa com peneira e todo excesso deveria ser poupado (ecobags). Eu me sinto tão manipulada seguindo o fluxo, fico puta da vida em pensar que a liberdade é 'virtual'.

Já estive em um seminário sobre os problemas climáticos e é fato: o sensacionalismo criado em cima da questão ambiental foi proposital para chamar a atenção da humanidade, né, só de ser 'humanidade' já é um problema...


Oi pra quem conseguiu entender alguma coisa, eu sou tão confusa.

Marie Clarte D´Or disse...

Eu acabei de ler um livro fantástico em que a questão ambiental serve como tema. Conta a história de um ganhador do Prêmio Nobel e que trabalha com meio ambiente mas................... está se lixando para tudo!!! Na verdade, ele usa o status de ambientalista para esconder o grande medíocre que é!!! O nome do livro é Solar e o autor é Ian McEwan.

" Solar é um romance desbragadamente satírico e irônico. As supostas boas intenções dos ecologistas e dos alarmistas do aquecimento global saem chamuscadas. Mas como toda boa sátira, Solar vai além das críticas dos temas do momento: ridiculariza sem piedade as vaidades intelectuais da academia e da ciência. O protagonista é Michael Beard, um físico, ganhador do Nobel, cuja vida pessoal é um desastre, depois de quatro divórcios seguidos, luta para salvar o quinto casamento com uma mulher que o trocou por um pedreiro. E é por puro oportunismo que ele aceita presidir um centro de "energia renovável" montado pelo governo britânico"