quarta-feira, março 24

se eu escrevesse bem e fosse mais estudada...

... este texto poderia ser MEU.
Extraído de um texto que a Rose compartilhou comigo chamado "Reflexões sobre o feminino", escrito pelo Dr. Flávio Gikovate.
Achei essencial repassar este trecho que trata de uma escolha/reflexão extremamente importante, mas que, no entanto, é totalmente banalizada.


"(...) É muito importante refletirmos um pouco sobre a questão do instinto materno e da maternidade em geral. Costumamos pensar, já que a isso fomos induzidos pela tradição cultural na qual estamos mergulhados, que a pulsão que faz as mulheres desejarem tanto procriar seja a manifestação do dito instinto. Gostaria de colocar minha opinião contrária a essa idéia: acredito que o instinto materno só se manifesta quando do nascimento da criança e, portanto, não tem relação nenhuma com o desejo de ter um filho. No passado, o instinto responsável pela gestação era o sexual. Ele não pede a gravidez, mas sim intimidade entre um homem e uma mulher da qual sempre resultou, como um "efeito colateral", a gestação. O forte instinto sexual que possuímos esteve sempre a serviço do prazer e da reprodução. A separação entre sexo e reprodução só se deu muito recentemente, a partir do surgimento dos recursos anticoncepcionais, notadamente daqueles de uso e controle feminino – o surgimento da pílula foi, sem dúvida, um dos fatos marcantes do século XX.

O desejo de ser mãe não é, a meu ver, expressão de natureza instintiva. Trata-se de um prazer pessoal, hoje totalmente desvinculado inclusive de qualquer tipo de necessidade social. Se, no passado, a reprodução era necessária para fins da perpetuação de uma espécie que padecia de muitas adversidades que poderiam facilmente levá-la à extinção, hoje a natureza agradeceria aos casais que decidissem não ter filhos, uma vez que o planeta está superpopulado e com graves problemas ecológicos. Se, no passado, a reprodução estava também muito vinculada aos interesses dos pais, já que os filhos trabalhariam para eles, sobretudo nas áreas rurais, e cuidariam deles nos anos da velhice, nos dias de hoje os jovens casais deveriam perguntar com muita determinação e coragem se querem ou não ter filhos, se estão dispostos a pagar o preço de criá-los para que depois partam convictos de que não devem nada àqueles que os geraram e que cuidaram deles com carinho por tantos anos.

Se formos capazes de pensar para além da tradição, cabem perfeitamente as perguntas: vale a pena ter filhos nos dias de hoje? O que podemos esperar deles no futuro? Qual o sentido, para os humanos, de esforços sem recompensas? Seremos capazes de nos dedicar desinteressadamente a eles sem, de fato, esperar nada em troca? Saberemos deixá-los crescer e ir embora, na busca do seu próprio destino? Como nos comportaremos se eles "saírem" muito diferentes daquilo que sonhamos? Meu intuito, com essa salva de questões de difícil resposta, é mostrar como temos sido levianos em relação a aspectos fundamentais da vida. Inventamos a pílula anticoncepcional – entre outros recursos que nos permitem decidir se e quando teremos filhos –, invertemos, através de aspectos educacionais, os tradicionais elos entre pais e filhos – agora os filhos sentem-se credores vitalícios dos seus pais; portanto, desapareceram as conveniências que nossos ancestrais tinham com a reprodução e nem por isso pensamos seriamente se queremos ou não ter filhos. Apenas cumprimos o ritual de tê-los sem saber ao certo o que estamos fazendo. Os temos porque todo o mundo os tem e, portanto, deve ser bom tê-los. Isso não é modo de pensar. Não é à-toa que tantas pessoas se arrependem de ter filhos mas, como dizia o poeta, só depois de tê-los tido. (...) "

5 comentários:

Rose Foncée disse...

Eu nem falo muito sobre esse tema por que tu sabes que me irrita muito. Mas a minha papelada de adoção tá feita e dependendo só do atestado para a entrevista. De tanto que eu quero, vou ser uma mãe bem massa. Ou não.

Débora disse...

Vai sim Rose. Vai sim!

O Barba:) disse...

Acho todas estas contestações muito relevantes sim, mas se considerarmos que os motivos conscientes para ser ter filhos vem mudando ao longo dos anos. Ter filhos já foi uma forma de defender terras, criar aldeias, perpetuar a família... durante o longo dos anos ter filhos adquiriu várias funções e todas estas com relação a um determinado momento da história.

Atualmente concordo sim, que a grande maioria de crianças que encaram os obstáculos da vida, vieram tambem como um obstáculo para seus pais. Filhos não programados, filhos nao pensados e na maioria filhos nao quistos como cita o texto.

Porém, acho que descartar por total o instinto maternal, a pura vontade de ser mãe, dar a luz, com responsabilidade, consciência, assim como um nunca mencionado "instinto paternal" - Pq? Homens não podem querer ser pai? Tbm sonhar e ter o desejo de acompanhar aquela pequena mão frágil que segura seus dedos até um dia dar-te a mão por inteiro? - desconsiderar os instintos naturais de qualquer especie eu acho exagerado.

E a Família? Onde Fica? E as que nao podem ter filhos e optam pela adoção para constituir uma família, para ser mãe? Ou a adoção trata-se unica e exclusivamente de uma questão de PENA e CULPA consciente?

Eh simplesmente querer SER UMA FAMILIA!

Sei que o texto nao se trata disto diretamente, mas sim de colocar uma consciência sobre o ato. Não acho que sejam precisas razões, motivos ou necessidades para se ter um filho. Acho que eh preciso sim ter consciência do quão importante é esta missão. Acabar com a banalização do ato de ser mãe/pai! "- Olha que bonitinho o meu nenem! Olha o que ele faz, fala, anda, pula..." E todos batem palmas e com isto instigam muitas outras pretendentes despreparadas a maternidade " - Tambem quero um! Quero ser como ela!"

SER MÃE, SER PAI, é lindo! Não precisa de motivo especifico para isto, faz parte da natureza. E colocar a consciência como a "mãe protetora do planeta e das civilizações" no intuito de induzir as pessoas a um pensamento caótico sobre esta questão não acredito que resolva o problema de CONSCIENCIA HUMANA!



Não sei se eh complemento ou critica... rs

Lili Cheveux de Feu disse...

eu não quero ter filhos pq não tenho desejo algum de botar mais um ser humano no mundo.

acho que todas as vontades de ser mãe giram única e exclusivamente em torno da vaidade, do prazer pessoal e do reflexo condicionado.

eu fico PUTA quando alguém me pergunta: e ai? quando vai casar? quando vai ter filhos?

hein???? não que eu queira ser uma rebeldezinha, mas hein? que convenção é essa que não evolui para um pensamento mais reflexivo sobre esse assunto?

casar, tudo bem. quer quiser que tente, não vai prejudicar ninguem. a gente tenta, pq às vezes se dá bem e se é feliz.
mas ter filho é algo muito, muito mais sério que "querer ser uma família". isso não um modo de pensar, como diz o autor.
é realizar um prazer pessoal. mas até que ponto é válido e correto se render a certos prazeres?
mais importante que querer ser uma familia é se perguntar: eu quero trazer mais uma pessoa para ajudar a deteriorar esse mundo? eu quero trazer uma pessoa QUE EU AMO para morar neste mundo?

gerar vida é muito sério, mas é encarado como pura trivialidade.

Lili Cheveux de Feu disse...

ah! só deixar claro que não quero ofender nenhuma das mamães leitoras e colaboradoras do blog.