quinta-feira, julho 11

Querida irmã,

Esta é uma carta de retratação. Te mandei uma mensagem ontem e, se ainda estiver em tempo, peço que desconsidere. Como a retratação é pública e mensagem foi privada, creio que devo esclarecer brevemente o assunto para os que estiverem compartilhando a leitura dessas linhas - ontem, encaminhei uma mensagem para Lili comunicando o meu afastamento do blog. Os dias estão difíceis, eu ando sem tempo, sem criatividade, lidando com muitas coisas ao mesmo tempo, e sentia que não estava colaborando com o blog como deveria. Achava que deveria deixar o lugar livre para quem pudesse contribuir mais e melhor. Foi isso.
 
Tudo explicado, Lili, venho então pedir que ignore solenemente minha mensagem anterior e se ainda for possível, peço que me seja permitido permanecer como colaboradora nesse precioso espaço. O motivo que me faz mudar de ideia foi o reacendimento da chama que sempre me animou a escrever, a colocar minhas ideias, minhas impressões, minhas bobagens no papel e a compartilhar com quem se dispuser a ler. As leitoras de uma de minhas últimas postagens - especialmente Julia, Joceli e Jujuba - me deram hoje um presente inesquecível quando compartilharam seus relatos cheios de humanidade e compreensão, quando aceitaram o convite para o debate de ideias, e quando falaram suas verdades com tanta elegância, generosidade e honestidade. Você e elas me lembraram a razão pela qual eu estou aqui.
 
De uns tempos pra cá, eu andava com a nítida impressão de que não tinha muita coisa a dizer para alguém. Era como se eu estivesse habitando um mundo particular, que não tinha como ser compartilhado. A cada postagem, eu ganhava um "eca" quase que instantaneamente, qualquer que fosse o assunto. Aos poucos, acho que fui interpretando isso como um sinal de que eu não tinha nada a dizer, uma mensagem de "saia daqui", e inconscientemente isso me foi desencorajando. Uma bobagem, mas que me incomodava pela sistematicidade da coisa. Racionalmente eu me dizia que essas respostas eram uma coisa boa. Elas me permitiam conhecer as pessoas que me lêem, como elas pensam, em que acreditam mas, no meu íntimo, somando isso ao turbilhão de acontecimentos em que minha vida se transformou fui me afastando, ficando evasiva, perdendo o ânimo para falar sobre um assunto, para debater.  Aí, um belo dia resolvo falar das minhas angústias sobre minha relação com uma pessoa egoísta e incrivelmente, as respostas das leitoras fazem com que tudo fique muito mais claro para mim. A postagem foi avaliada com um monte de "ecas", mas isso não me desanimou, porque as respostas foram tão verdadeiras, tão incríveis, mexeram tanto comigo, me fizeram entender mais, mudar de ideia, rever conceitos... e então eu pensei: É isso! É com essas pessoas que eu estou me relacionando, são essas pessoas que estão me fazendo pensar, e que por causa de algo que eu escrevi se animaram a escrever também, a colocar suas experiências e suas visões no papel. Esse compartilhamento que faz a vida melhor, essa capacidade de debater sem ferir, de perceber o alcance das palavras, de poder sentir gratidão por palavras certas, tão bem colocadas, na hora exata.
 
Esses dramas que vivemos, irmã, são de todos nós. Os medos, as angústias, as crenças mais sinceras, tudo. E em dias como hoje, quando, com algumas linhas, pessoas que a gente não conhece pessoalmente, que estão tão distantes e ao mesmo tempo nos são tão próximas e tão íntimas , fazem com que horizontes se abram e que a vida ganhe novos sentidos, a gente entende direitinho o que está fazendo aqui.  
 
Não, não é a aprovação que eu busco. Não são estrelinhas nem coraçõezinhos. É o compartilhamento, essa sensação de entender e ser entendida. A certeza de que eu conheço a mãe da Joceli, de que sei exatamente o que incomoda a Jujuba e de que em muitas manhãs em que parece quase insuportável tirar o rosto do travesseiro e sair da cama para cuidar da vida,o que eu sinto deve ser muito parecido com o que a Julia sente, todos os dias. E essa maravilha de conseguir saber aquilo que é tão dificil de expressar, de poder olhar para as coisas com novos olhos a partir de palavras certeiras, e de ganhar novos motivos para seguir em frente é que me fazem me sentir um pouco mais feliz e um pouco menos só.
 
No mais, querida irmã, obrigada pelo tempo de convivência e perdão pelas ausências. Espero, de verdade, que ainda haja tempo para que meu pedido de ontem não seja irreversível. É muito bom ir levando a vida a seu lado e ao lado de todos os que compõem essa nossa comunidade tão linda, doida e verdadeira.
 
Um grande beijo.
 
Rose.   

11 comentários:

Juliana Canoura disse...

Não se afaste, Rose!! Gosto muito de te ler, sou uma leitora quietinha, mas estou aqui faz tanto tempo, já vi muitas filhas ir embora, não se junte à elas! Fique, sua presença é bem vinda, e tenho certeza que os 'ecas' só são momentâneos, e nunca referentes a você, todo mundo discorda, mas não significa que você não é querida, pelo contrário!!

Lili, dá um puxão de orelha na Rose, e bola pra frente, meninas!!

Muitos beijos e inspirações pra vocês!

lili cheveux de feu disse...

Ju, se ela estava ACHANDO que eu abriria mão dela, redondamente enganou-se. Tanto que eu nem respondi a mensagem de ontem. Humpf. Rs.

[Mentira. Não respondi por que fiquei triste e não sabia o que dizer. Mas agora estou feliz e, poxa, vê se fica pra sempre! Beijo. <3]

Julia M. disse...

Fiquei tão emocionada com o seu relato que citar meu nome foi até irrelevante. Que bom que você considerou a ideia. Porque a forma como você escreve é tão bonita e cheia de uma humanidade difícil de encontrar hoje em dia. Sempre leio esse blog, mas fico na minha moita. Mas sua visão de mundo, concorde eu ou não, sempre abala algumas estruturas. As suas e da Lili. Especialmente.
Espero de verdade que você continue. É sempre um prazer te ler.
Bjo.

Joceli disse...

Sua fofa! Essa postagem foi muito emocionante, e mais ainda, a sua coragem em expor publicamente suas emoções, em tempos que temos receio em expor algo que vá contra a maré do politicamente aceito.Eu leio o FdD há tanto tempo, desde quando acompanhava a Ticcia, que era linkado aqui. Hoje, acho uma delicia ver o mundo da adelaide, suas viagens e seu estilo de vida que me parece tão metroplitano e chic ! Eu,que nunca saí da roça e só conheço a esquina, me delicio com a vida que ela mostra, aos pedaços, sobre cada relato. Ou a Lili, a jovem que se preocupa com o meio ambiente, cuida de animais e ama moda e você, sempre às voltas com divertidos relatos sobre a vida doméstica e profissional.Como diria Clarice Verissimo de abreu Rodrigues: isso, senhores, é a vida como ela é. Beijos .

Jujuba disse...

Cara que legal! To me sentindo importante... Égua, eu também sou do tempo das megeras, do gorduchas. Sempre amei todas, até aquela que brigou em todos os blogs, hahaha. Eu venho aqui todo santo dia. Todo santo dia. Ainda bem que tu não vais embora, Rose.

Anônimo disse...

Rose,
também sou uma leitora silenciosa que venho regularmente.
O seu post sobre ego-depressão achei perfeito. Também convivo com alguém parecido que se fosse a única pessoa com depressão que conheço eu acreditaria que é uma doença-frescura. Mas, também sei que não é bem assim. Embora essa pessoa eu tenha ímpetos de bater com a cabeça dela na parede como terapia pra acordar pra vida. Concordo com vc que esse é um viés da depressão que muitas pessoas não querem enxergar. Mas, um dia vão.
Tanta discordância, ou "ecas", como vc disse é porque fez as pessoas pensarem. Vc tem esse dom. A mim, revelou algo que eu sentia mas nunca externei. Que bom que reconsiderou e resolveu ficar. É uma prazer lê-la sempre. Tenha um lindo dia.

Ana Lucia

Rose Foncée disse...

Ow, garotas, obrigada a todas, viu. Gosto muito desse espaço, e esse tipo de retorno é fundamental para que eu saiba que de vez em quando eu devo dizer aquelas coisas que a gente sempre acha que não deve. Beijos!!

Rose Foncée disse...

Gente, e não é que meu "eca" de estimação chegou?! Eu tô falando, ele(a) não falha!!!! Hahahahahahahahaha.

lili cheveux de feu disse...

mesmo que negativo, é ibope, rose. hahahaha.

Anônimo disse...

Fica, fica, fica!
No post anterior, acho que houve uma confusão entre a depressão-gênero e a depressão-espécie, rsrs.
Que bom que mudaste de idéia!
Bjs,
Sabrina.

Anônimo disse...

Continues! As "ecas" vivem em algum território absurdamente longe de você.