segunda-feira, abril 11

Protelar


Tem umas coisinhas na vida que eu chamo de "ninharias explosivas". São aqueles pequenos aborrecimentos cotidianos, bobaginhas, que não tem consequência nenhuma, mas que vão se juntando e criando um estado de espírito favorável para que a gente acabe explodindo de uma hora pra outra, descarregando um dia difícil em cima de alguém que não tem nada a ver com isso, dando aqueles chiliques pavorosos.


Uma dessas ninharias da minha vida estava relacionada à vasilha de comida do cachorro. Meu amável cãozinho tinha o maroto hábito de, nas suas tardes solitárias, arrastar a vasilha cheia de comida para algum cômodo da casa e virar, derrubando bolinhas de ração por toda a parte. Todo dia eu chegava em casa e me deparava com a vasilha vazia, derrubada, e ração por toda a parte. Nada que me tomasse mais de dois minutos para limpar. Era abaixar, juntar, catar tudo, botar na vasilha de novo e pronto. Só que era uma ninharia a mais na vida. Uma a mais acumulada. E muitas vezes o cachorro ouviu gritos desproporcionais à sua arte. E muitas vezes Cheri aguentou mau humor, certamente me achando louca por estar nervosíssima por causa de uma arte do cachorro. Não era só por causa da arte, claro. Ela só funcionava como a gotinha final que fazia transbordar o copo.


Pois bem, na última sexta feira, ao buscar o cachorro na pet shop, olhei para a prateleira de vasilhas e lá estava uma toda bonitona, de ferro, pesada, impossível do danadinho arrastar e virar. O engraçado é que eu já tinha pensado em fazer a troca por essa vasilha há mais de um ano!! Já tinha visto essa vasilha semanas e semanas seguidas na prateleira da loja que frequento religiosamente, todas às sextas, por conta do banho do bichinho, e nunca me dispus a pegar, compar por míseros 12 reais, e levar para casa. Uma medida que não me tomou tempo, trabalho, dinheiro, nada, nada, nada... comprei, troquei e acabou o problema.


A questão é: porque eu não fiz isso antes? Eu já tinha a solução, já sabia o que fazer, e sem motivo nenhum, protelei, não fiz. Convivi com uma "ninharia explosiva" por meses e meses, sem a menor necessidade. E assim faço, e acho que muitos de nós fazemos, com muitas e muitas outras coisas... A lâmpada que fica semanas sem ser trocada. Os recibos de cartão que vão se acumulando em nossa carteira, nos atrapalhando cada vez que precisamos procurar alguma coisa dentro dela. O eletrodoméstico quebrado que não mandamos consertar. Os posters da viagem que permanecem enrolados por mais de uno sem virarem quadros e irem para a parede. As roupas que não servem mais e que vão ficando penduradas, ocupando lugar no armário. Pequenas fontes de irritação. Pequenos "nadas" que vamos deixando ocupar pequenas partículas do nosso tempo corrido, lixo que vamos acumulando em nossa vida. E por que? Por que não trocamos, não arrumamos, não jogamos fora, não consertamos? Por que fazemos essas pequenas sabotagens em nossas vidas? Alguém aí saberia dizer, heim? Arriscaria um palpite?


Com ou sem resposta... que tal começarmos a nos livrar das nossas "ninharias exploxivas" ainda hoje?

6 comentários:

Gilda disse...

Hoje, com 11 dias de um câncer de estômago surpresa na minha mãe e 7 dias de cirurgia para retirada total do estômago, eu, que sempre me matei pelos detalhes e toda as ninharias idiotas do mundo, fico toda dolorida por ter perdido tanto tempo com tanta bobagem.

PS: Minha mãe tá bem! Ela é linda, loira, jovem (45), vai tirar de letra e pra variar, vai dar uma lição de vida pra todo mundo.

Cheri disse...

Concordo com a Gilda. É besteira ficar perdendo muito tempo com as ninharias e mais besteira ainda se estressar com elas.

O Mordomo disse...

Ótima idéia!
Mme Foncée, gentileza parar de deixar calcinha jogada no canto do banheiro. O cestinho de roupas suja fica, inacreditavelmente, NO MESMO CÔMODO.

Mme Marie, gentileza parar de esparramar migalhas de croissant pela casa toda.

Mme Lili, gentileza parar de me ligar às 2h da manhã para te fazer uma "massagem nos pés".

Desculpe.

O Mordomo disse...

Mme Gilda, sucesso na recuperação da sua mãe!

Rose Foncée disse...

Gilda, Cheri, eu concordo plenamente. Claro que a gente não teve perder um segundo com nenhuma ninharia da vida... mas não deixa de ser uma reflexão interessante pensar porque às vezes demoramos tanto para resolver alguma coisa que é absolutante simples, que não nos tomará nem tempo, nem energia nem nada. Minha bolsa está com o fecho estragado. No meu caminho para o trabalho passo em frente do local que cuida disso... todo dia. Seria simplesmente parar, deixar a bolsa na ida, pegar na volta, sem me desviar do caminho, sem me atrasar, sem nada... e ainda assim eu acabo não fazendo, e vou andando com a bolsa estragada mesmo. Não é no mínimo curiso?

lili cheveux de feu disse...

eu sou mestre em deixar as coisas pra depois. mestre.