“Eu produzia aqui nesse sítio onde estou, meio caminhão de mercadoria por semana. O exército pegou tirou eu daqui e meteu na cadeia, cegou-me o olho, deu uma pancada eu perdi o ouvido, outra pancada eu perdi o coração... Passei seis anos na grade da cadeia. O que foi que eu construí na grade da cadeia para a nação?
Tomaram um relógio, um cinturão, cinquenta conto em dinheiro, um jipe o exército tomou, está lá detrás da Prefeitura de Vitória, lá na delegacia, um jipe meu, não me entregou mais.
Isso é tipo de revolução? Pegar de um homem lascado que nem eu, fiquei meus filhos todinhos morrendo de fome aí e o exército tomando o carrinho que eu tinha, tomar meus documentos, tomou tudo, agora ficou com ele. Que vantagem fez o exército em fazer uma desgraça dessa comigo? Era melhor mandar me fuzilar, não era?, do que fazer uma miséria dessa? Eu fiquei mais revoltado do que era. Deixar meus filhos tudinho morrendo de fome aqui e eu lascado lá na cadeia, no cacete, no pau.
(...)
Passei 24 horas em pé, só o diabo aguenta. Passar, dentro de um tanque de merda, 24 horas em pé. Só Satanás. Eu não acredito que estou vivo não, porque eu nunca vi um espírito da minha qualidade aguentar mais choque elétrico do que eu aguentei, não.
Mas não tem melhor que um dia atrás do outro e uma noite no meio.
(...)
Um dia o povo tem de pensar quem são eles. Não é possível a gente viver a vida todinha debaixo desse pé de boi, não. ”
Trecho do depoimento de João Virgínio que faz parte do documentário "Cabra Marcado Para Morrer" de Eduardo Coutinho. João foi preso em 1964, passou 6 anos na cadeia.
O filme é impressionante. Por favor, assistam.
sexta-feira, março 7
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