terça-feira, agosto 14

A consulta médica

Hoje decidi que não vou perder a guerra. Decidi agora, no elevador, depois de uma consulta/conversa com minha médica.

Era para ser uma consulta de rotina, para durar uns 20 minutos, e acabamos conversando por mais de uma hora. Falamos de saúde, ansiedade, vida moderna, família, atividade física, ataques de pânico, fobias, alimentação saudável, meditação... foi um desses momentos especiais, tanto pra mim quanto pra ela - percebi que ela está vivendo momentos delicados na vida também, e como temos idades semelhantes, acho que acabamos nos identificando em muitas questões aflitivas.

No caminho pro trabalho, com o pedido de uma batelada de exames, o telefone de uma psicóloga dentro da bolsa e a promessa de beber muito líquido, percebi, nitidamente e pela primeira vez, que a batalha do bem viver que travamos diariamente, está começando a ser perdida por mim, devagarzinho, a cada dia, mandando sinais cada vez mais claros de que o ponto de não retorno está chegando e que, daqui a pouco, ao olhar para trás o que eu enxergarei será uma sucessão de negativas - a pessoa que eu não fui, o sonho que eu não conquistei, as coisas que eu não fiz, a tranquilidade que eu não alcancei. Vi o fracasso se entranhando em mim, nas dobras de um corpo disforme por pura preguiça, na carreira que não decola por falta de disciplina, nos relacionamentos familiares que fracassam por falta de diálogo, nas dívidas que se formam por compulsão e ansiedade, nas doenças que chegam por maus hábitos.

E tudo - absolutamente tudo - dependendo apenas de mim mesma. Não passei por nenhuma tragédia terrível na vida, não tenho nenhuma doença grave, nada disso. Não tenho como culpar um cataclisma, deus ou meus bisavós pelos meus infortúnios. Posso ser aquilo que eu quiser ser, posso parar de descer a ladeira agora, é só querer. Depende só da minha vontade não virar uma mulher de meia idade disforme, não passar as noites vendo novela, não deixar a carreira entrar no piloto automático, ter um relacionamento saudável com minha família, não me deixar vencer pela preguiça, pelos vícios, pela acomodação. Depende da minha vontade ter uma vida sensacional.

Parece muito óbvio, mas acabei percebendo isso de forma cristalina, com essa visão de que realmente não existem obstáculos reais, só agora - no caminho pro trabalho e no elevador até chegar na minha sala.  Nâo vou virar uma tia frustrada, chata, dependente de comprimidos, cheia de amargura, rancor e sonhos não realizados. Não vou perder a guerra para mim mesma. Não vou.

- Rose, não aconselho, mas se você achar realmente necessário, posso te receitar alguma coisa pra essa ansiedade, caso você ache que esteja insuportável demais.
- Não, doutora, não quero. Vamos deixar a angústia chegar. Vamos ver qual é a causa. E deixe eu fazer com que ela vá embora atacando a causa, e não fazendo com que ela suma temporariamente com um comprimido, eu prefiro... 
- É exatamente isso querida, é o melhor a fazer mesmo. Faça os exames, vamos ver se está tudo certo, e estando tudo ok, volte daqui a três meses para conversarmos. Se der alguma alteração, venha antes. E não se esqueça, heim... beba muita água. Muita água.
- Pode deixar, doutora.
- Tchau, querida, até a próxima. E coragem!
- Acho que no fim é só isso mesmo que a gente precisa, né.

Coragem.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lendo o teu texto eu também decidi: VOU TER QUE TER CORAGEM!
Obrigada pela confissão, obrigada por se fazer companheira de tantas outras na mesma situação.
Conseguiste colocar em palavras muitas coisas que penso tb.
Grande beijo e força na peruca!
Sabrina.

Dedé disse...

que post lindo, Rose!! Obrigada pela honestidade e por dividir esse momento com a gente. Força e coragem. A gente sempre consegue! ;)
bjs

Anônimo disse...

meu bb nasceu tem 2 meses e nesse tempo tô sem ir a terapia. muita falta tá me fazendo. ta me aproximando da causa da minha ansiedade e abrindo meus olhos para os limites eu msm me imponho. pra mim a terapia n funciona como religião, mantra ou simpatia. é apenas uma conversa com lente de aumento na minha própria vida. se em uma conversa com sua médica vc já ficou tão mexida acho q vai te fazer mto bem uma profissional da área. no fundo é isso msm CORAGEM pra vc e p mim

Mariana Botelho

O Mordomo disse...

Tá tudo bem, madame Foncée?

#meLiga