segunda-feira, julho 2

Não deixe tanta vida pra depois...


Quase chorei quando li essa matéria e a entrevista com a Vanusa. Me deu uma vergonha imensa das minhas risadas vendo os vídeos com os vexames dela no youtube. Uma mulher que chegou à meia idade com problemas, que deve ter errado muito, mas que nitidamente é uma pessoa do bem, franca, dá pra dizer que é quase ingênua, pura mesmo, e que teve o seu drama transformado em motivo de escárnio por um país inteiro.

Claro que ver o vídeo do hino nacional é engraçado, principalmente quando a gente não sabe o contexto, quando vê a coisa isoladamente, não dá pra ser hipócrita quanto a isso. Mas não sei, tem horas que eu acho que a gente está passando muito dos limites. É uma pessoa que está naquele vídeo, uma pessoa que tem uma vida difícil, pra quem as coisas deram errado, uma pessoa solitária, doente... que diabo de pessoas são essas que a gente virou que se diverte às custas de um drama tão sério, de um problema tão pungente, de uma coisa tão real. É nítida a ingenuidade dela, o despreparo pra viver nesse açougue que se tornou o nosso mundo, em que os egos, as intimidades, e as autoestimas são diariamente despedaçados por vídeos que viralizam, por profissionais carniceiros que vivem da desgraça alheia e por uma insensibilidade generalizada, que faz com que todo mundo seja capaz de vender a alma por qualquer bobagem material e que nos impede de enxergar um palmo na frente do próprio nariz pra ver o mundo monstruoso que estamos construindo.

Ver uma dama, uma artista, relatar, com a maior naturalidade desse mundo que tem como meta agora conseguir pagar uma dívida de condomínio é de cortar o coração. Ver essa pessoa cheia de planos, sabendo que onde quer que ela vá haverá um exército de abutres, uma legião de gente insensível torcendo para mais um erro, para mais uma gafe, para mais um vexame, é revoltante. Além de todos os problemas que já tem, Vanusa ainda tem que conviver com a vergonha de saber que nunca aquele vídeo vai sair do ar. Que aquele dia em que ela errou, em que ela falhou, estará exposto para o deleite e o escárnio de quem se dispuser a digitar o nome dela em algum site de busca. Deve ser muito, muito difícil conviver com isso. E eu tenho muita pena.

Torço muito pelo sucesso dela daqui pra frente. Que ela consiga recuperar o reconhecimento da grande dama que é de verdade. E que nós tenhamos ainda tempo para perceber o quão odiosos estamos nos tornando, perdendo completamente o respeito por tudo, transformando a desgraça alheia em diversão. Ridicularizando tanto assim os outros, ridículos de verdade acabamos sendo nós mesmos.


2 comentários:

O Mordomo disse...

#agree

lili cheveux de feu disse...

perfeito, rose.
é uma pena que você esteja tão certa em seu texto e é assustador este caminho que nós estamos percorrendo. triste.