quinta-feira, junho 14

MInha vida é andar por esse país...


Ando com saudade de viajar de ônibus. Durante muito tempo na vida, era meu principal meio de transporte - a família era interiorana, não tinha aeroportos por perto, e viajar de avião era muito caro. Sem contar que morávamos todos a no máximo 500 km uns dos outros. O ônibus era o transporte utilizado pras visitas, pra resolver problemas na capital ou nas cidades maiores, pra um fim de semana matando saudades. Ir de carro era caro também. Só compensava quando éramos mais de dois viajando. Quando ia sozinha, era o bom e velho ônibus que resolvia a vida mesmo.

E como ônibus no Brasil é bom, não? Pelo menos, eu não tinha grandes problemas. Aliás, o meu saudosismo não é apenas porque o "andar de ônibus" simboliza um tempo em que a vida era mais simples, os problemas menores e eu era mias nova, sonhadora e protegida não. Além de tudo isso, era um meio de transporte adorável. As poltronas largas, bem reclináveis, a pontualidade, a simplicidade para comprar uma passagem, para embarcar, para guardar as malas, os janelões que nos deixavam ir vendo a paisagem quando a viagem era de dia.

Mas principalmente, o tempo de pausa - ah, o tempo de pausa. Ao entrar no ônibus, eram aquelas horas dedicadas a mim mesma. A um bom livro, a pensar na vida, a fazer planos para o futuro, a dormir um pouco, a simplesmente fechar os olhos e sonhar acordada. Sinto falta até das paradas, de comer coxinha e tomar coca cola em lanchonete de beira de estrada! E das pessoas que a gente invariavelmente acaba conhecendo pelas viagens - o motorista que fazia a linha São Paulo - Curitiba e que se apresentava aos passageiros e pedia uma oração coletiva antes de começar a viagem; a balconista da lanchonete que trabalhava durante as madrugadas em algum posto de beira de estrada de Goiás, a senhorinha que sempre pegava o mesmo ônibus que eu às sextas feiras, indo para o interior, a locutora que anunciava as próximas partidas na pequena rodoviária da pequena cidade do litoral de Santa Catarina... tantas pessoas, tanta gente simples, tantas historias.

Tenho a mais absoluta consciência de que o país que percorri de ônibus, e que ainda percorro, eventualmente,  está longe de ser o Brasil profundo, a representação da alma e dos problemas brasileiros. Sempre morei em regiões privilegiadas, com boas estradas, cidades com boa estrutura, sistema de transporte de boa qualidade. Mas ainda assim, gosto de pensar que nas minhas viagens pelas nossas estradas eu conheci de verdade o meu país e a minha gente. Um país de tardes escaldantes, madrugadas geladas, silêncios entrecortados por músicas brega, comida boa e barata, pessoas cordiais, neblina e muitas possibilidades de aventura.

Ímpares na janela, pares no corredor. No fundo, tem toilette e água mineral disponível. Nossa previsão de chegada é para daqui a seis horas. Evite conversar com o motorista. E boa viagem a todos.

Que vontade de fazer uma boa viagem de ônibus!

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