segunda-feira, dezembro 12

Linhas Tortas



Desde que o cachorro veio aqui pra casa que Cheri e eu tínhamos vontade de trazer mais um para que o pobrezinho não ficasse tão sozinho. Particularmente, eu sempre quis adotar um, pegar um filhotinho abandonado, um doentinho, fazer um bem para algum cãozinho rejeitado, são tantos por aí, expostos a tanto sofrimento...

Por outro lado, sempre fui extremamente realista pra tudo nessa vida. Moro em um apartamento pequeno, em um prédio que tem um condomínio cheio de regras, vizinhos e tenho uma vida corrida - a casa fica a maior parte do dia sem ninguém. Não dava pra arriscar trazer um cão que latisse demais, que crescesse e necessitasse de muito exercício, muita atenção, cuidados... pra adotar e não cuidar da maneira como teria que ser, melhor não adotar. Pior ainda - adotar, dar um lar, fazer o bichinho se afeiçoar e depois ter que dar pra outra pessoa por conta de vizinhos incomodados com latidos e barulhos, seria submeter o cão a uma nova rejeição. A solução seria, mesmo, pesquisar uma raça pequena, dócil, silenciosa - uma raça~de cãezinhos de apartamento mesmo, para fazer companhia aqui para nosso príncipe, e decidimos então por um schnauzer (para falar a verdade, o schnauzer decidiu por nós - numa das idas à pet shop para comprar ração, vimos o que viria a ser o nosso caçulinha pela primeira vez, à venda, no cercadinho, e ele imediatamente se chegou todo para o lado de Cheri, que imediatamente se encantou com o fofo).

Assim, domingo passado, o novo membro da família chegou em nossa casa. O criador veio trazer o lindão, já com quatro meses todo tímido. E nesse mesmo domingo constatamos que nossa filhotinho estava bem doente - a timidez, que julgávamos ser por ele se encontrar em ambiente estranho, foi aumentando, o bichinho com o passar das horas cada vez mais amuadinho, e aí percebemos o barrigão dele crescendo, duro, ele quase sem conseguir se mexer, com carinha de dor. Corremos para o veterinário, e em sua primeira noite conosco, tivemos que deixa-lo lá, internado, tomando soro, medicamentos, com um sério problema estomacal. Além disso, também percebemos a pele cheia de feridinhas e dermatites - muito mesmo, deve estar sendo uma tortura para ele, que fica se coçando o dia inteiro. Tão logo ele teve alta, já tosamos, e agora começaremos com as pomadinhas e o shampoo medicinal .

O fato é que, por já ser bem grandinho, provavelmente ele demoraria a ser escolhido por outra pessoa, e se mais alguns dias se passassem, provavelmente o problema estomacal se agravaria e a probabilidade dele não resistir seria bem grande. Agora, bem tratado e curado, nosso pequeno está que é uma beleza. Já fez amizade com o outro, tem um temperamento alegre, é carinhoso e divertido.

No fim das contas, mesmo sendo de raça, criado para ser comercializado, estava em perigo, doentinho, sofrendo, e agora tem um bom lar. O ato de comprá-lo acabou significando, por linhas tortas, resgatar um animalzinho de uma vidinha de dor e sofrimento.

6 comentários:

Holandesa disse...

Todo animal precisa de amor e carinho. De raça ou não. Comercializado ou não. Não foram eles que inventaram as regras humanas.

Resumindo: Fizestes bem! Muito bem.

Não se esqueça de postar uma foto de fofo para admirarmos!

Rose Foncée disse...

Farei isso, Holandesa! Assim que ele melhorar da dermatite, pra ficar uma foto bem lindona!!

Hellen disse...

Rose, vc não tem noção do que a maioria (veja bem, a maioria, não todos) dos bichinhos criados para a venda, sofrem. Meu irmão pagou quase R$ 2.000,00 no dele e ele veio cheio de problemas: desnutrido, problema de pele (uma sarna que pegou da mãe que está desnutrida também devido a sucessão de crias sem o intervalo necessário). Isso tudo descobriram depois, quando foram reclamar com o dono do canil. A maioria dos criadores não está nem aí para a saúde e o bem estar dos bichinhos: querem lucro, lucro e lucro. Não importa às custas de que. Triste...

Por isso sou totalmente contra a comercialização de animais.

Rose Foncée disse...

Também acho, Hellen, mas veja que situação difícil. Porque esses bichinhos já existem, já estão lá sofrendo... fico imaginando qual seria o destino deles se ninguém comprasse... Como fazer?? Pra mim é um dilema terrível! É a mesma coisa com relação a dar ou não esmolas...um monte de gente contra, orientando a fazer donativos a instituições de caridade sérias... e aí a gente sai na rua e vê uma pessoa revirando o lixo atrás de comida... minha instituição séria não está ajudando aquela pessoa que visivelmente precisa de ajuda ali, naquela hora!!
Concordo com você, mas tenho que confessar que meu coração tem quase arrebentado de alegria agora, nesses dias, em que eu chego em casa e vejo meu caçulinha que chegou tão doentinho, desnutrido e amuado, feliz da vida, revirando o apartamento inteiro, pulando e brincando com meu outro cãozinho.
Honestamente, esse é um dilema que eu tenho mesmo.

Anônimo disse...

Rose, tenho um schinauzer tambem - lindo, fofo, gostoso - que sofre de todas as mazelas da raça. Depois de tentar até ajuda de mae de santo, descobri que homeopatia e acupuntura sao a solucao.
#ficaadica.

Bjos!

Hellen disse...

Não, vc está certa.
Não sou (exatamente) contra as pessoas comprarem. Sou contra as pessoas venderem. Bicho não é mercadoria e o que fazem para manter sempre a "disponibilidade de mercado" (principalmente com as fêmeas) é cruel. Deveria ser proibida a comercialização...
De jeito nenhum estou te recriminando, até porque foi o que você disse: se ninguém comprar vão fazer o que, jogar fora? O único ponto negativo é que um comportamento acaba incentivando o outro e vice-versa (mesmo com a melhor das intenções).