Rose Foncée e o Leão

No ano passado cometi um pequeno erro na hora de preencher minha declaração do Imposto de Renda. Abestalhada que sou, só fui perceber que havia algo errado quando chegou janeiro deste ano sem que eu recebesse a restituição. Fiquei mais ou menos um mês paralisada pelo pânico, criando fantasias horrorosas sobre malha fina, recibos, varredura contábil da minha vida, etc, etc, etc (como se eu tivesse alguma coisa séria para esconder, ou como se fosse alguma perigosa sonegadora – rá, rá, rá!).

O fato é que chegou o período da declaração deste ano e finalmente fui ver o que tinha acontecido. Um simples erro no preenchimento de um valor, um dígito errado, só isso. Era só entrar na declaração, corrigir esse dígito e tudo ficaria resolvido. Seria simples se a pessoa aqui tivesse guardado uma cópia da declaração em papel ou digitalizada, como devem fazer todas as pessoas que possuem um mínimo de juízo. Não, não guardei. Imprimi o recibo e só isso.

Mais alguns meses de fantasias terríveis, pesadelos pensando na situação da contribuinte em débito com o fisco sem ter condições de resolver sua situação. Não, não dá. Não vão me devolver a restituição desse ano também se eu não consertar isso. E a do próximo ano também não. E vão ficar declarações pendentes, e deusmelivreguarde, vou acabar sendo presa!! (gente, é sério – cheguei a sonhar que estava saindo algemada do aeroporto porque foi descoberta minha pendência pelos agentes da polícia federal na hora em que eu apresentei o passaporte pra embarcar, pensem na neurose!) Mãos a obra então, e aí a grata surpresa – liguei na sexta para o serviço de atendimento ao contribuinte da Receita, o 146. Atendimento cordial e preciso, informações claras e simples.

- É só a senhora se dirigir ao posto de atendimento presencial mais próximo da sua casa, solicitar uma cópia da declaração, refazer a declaração com problemas corrigindo o dado incorreto e enviar como retificadora. Qual o endereço da senhora? Então, o posto mais próximo de sua residência é o tal, funciona nos dias úteis das 07h (!!!) às 19h.

07h da manhã já estava lá eu, no tal do posto com umas três pessoas apenas na minha frente pegando a senha bem na hora da abertura:

- A senhora tem um pen-drive? Se tiver não paga nada. Se não tiver, vai levar a declaração em papel, é só ir ali no auto-atendimento e fazer o pagamento de R$ 10.00. – Não, não precisa, moça, eu tenho pen-drive.

Horário da senha: 07h12. Atendimento acontecerá a partir das 07h27 (vin-te-e-se-te – me senti nas ilhas britânicas!). Deu tempo de sair, tomar um cafezinho no quisque em frente ao posto, voltar, aguardar confortavelmente e milagre – 07h27 em ponto (!!!) chamaram a minha senha. Havia umas 20 mesas de atendimento, todas com pessoas trabalhando. Pessoas muito polidas e eficientes. A minha atendente, Beatriz, chiquérrima, confirmou as orientações que eu já havia recebido por telefone, foi toda amável e profissional, e em menos de cinco minutos saí de lá com minha declaração pronta para ser corrigida. Isso tudo em um horário em que tá todo mundo normalmente dormindo ainda, gente, fiquei besta!

Nessas horas dá orgulho de ser brasileira, pra compensar um pouco tantos outros momentos em que sinto vergonha. Assim, eu cometi um erro, deixei passar mais de um ano, embora tenha sido um erro trivial, foi um valor declarado, e a solução é fácil, profissional, segura e extremamente eficiente. Servidores bem preparados, contribuinte tratada com respeito, adorei. Falem o que for, mas duvido que na Dinamarca, em Cingapura, na Suiça, ou em qualquer outro país avançadíssimo a eficiência seja maior do que aqui. Duvido.