terça-feira, abril 19

A Vida Corporativa



Ele é uma espécie de ídolo da gerência intermediária. Fluido, de fala macia, camarada com os gerentes inferiores e subserviente com os superiores. Está sempre pronto a ouvir e a ajudar, mas nunca responde a uma pergunta direta e nunca resolve nada, sai sempre pela tangente. No fundo ele não ouve, não quer ouvir, não quer resolver. Ele repete o que ele quer e é só. É o rei dos sorrisos e dos tapinhas nas costas. Ele achou seu nicho no mundo corporativo, encontrou sua zona enorme de conforto e lá permanece. Embora seja sempre lembrado dentre vários nomes para uma eventual promoção, não se esforça de verdade para galgar mais um degrau. A verdade é que no fundo ele não se interessa em progredir; não faz mesmo praticamente nada, e pretende continuar assim. Tem o seu time fiel de defensores que sempre se mostram indignados quando outra pessoa galga uma posição que eles acham que poderia ser dele. Aí, ele vive seus melhores momentos: um sorriso tímido, um aceno de modéstia, e o discurso de reconhecimento ao colega que merecidamente ocupa um posto melhor agora. A plateia delira e ele segue firme – pegando nos ombros das pessoas quando lhes dirige a palavra, repetindo chavões, entrando e saindo de reuniões sem sentido, exercitando a arte de cultivar e multiplicar o vazio, o nada. Uma perda para o teatro nacional, de verdade.

A única coisa realmente divertida em conviver com ele é que com o passar do tempo a gente decora todos os seus discursos chavões ensaiados – aí, é só fazer alguma colocação que não se encaixe em nenhuma das respostas para presenciar o espetáculo non sense dele argumentando algo que não tem absolutamente nada com a colocação apenas porque é só aquilo que ele quer ou sabe dizer.

Para mim, ter que trabalhar com ele é um pesadelo. A voz baixa, calma e paternal. A expressão eternamente serena, eternamente calculada. O hábito de não reagir, não se exaltar, colocar-se sempre em um patamar ligeiramente superior, quando na verdade ele está mesmo é a léguas abaixo, em termos de produtividade e capacidade gerencial.

Vocês conhecem essa pessoa, não? Toda empresa, órgão, escritório tem um. No interior, o tipo é chamado de “bagre ensaboado”. Traduzindo: ele é uma fraude, amores. Uma fraude

4 comentários:

Sírley disse...

Perai!!!! Você trabalha no meu setor ou apenas conhece o meu chefe????? Descreveu-o perfefeitamente!

Thiago disse...

welcome to the club!

Anônimo disse...

Eu prefiro achar que ele administra muito bem as diferenças...rs.

thiago disse...

Mas "administrar" bem as "diferenças" pode um dia te prejudicar, e é aí que vc começar a ver que merda de chefe ele realmente é.